quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Estranhos Íntimos

Publicado na Revista Trilhas em Junho de 2009.        
         
         Algo que sempre me chamou atenção em todos os tipos e estágios de relacionamento homem e mulher é a vulgarização. Casais, sentimentos, separações vulgarizadas. Parece que a essência do real sentido do amor, da cumplicidade, da amizade e do companheirismo exercidos nesse processo perdeu-se no tempo e no espaço.
            Mas procuro não julgar, e sim entender. Acredito em uma carência na raça humana, acredito em valores distorcidos, acredito que nem tudo é o que parece ser.
          Observando é fácil reparar em gerações que cada vez mais cedo tentam exercitar a arte do “pegar e não se apegar”, e no final contar isso como triunfo. Confesso que sempre que me vejo falando nesses temas realmente me sinto fora de época, meio antiquada diria.
            Analisa friamente comigo, não é engraçado, e no mínimo estranho, duas pessoas que não se conhecem adquirirem tanta intimidade (e tu sabes bem a que me refiro) em uma única noite? Acabam com todos os processos de algo que realmente poderia ser ainda melhor e de futuro surpreendente em questão de minutos. Nesses minutos pouco se conhece da personalidade, gostos e opiniões do outro, fica a entrega total ao desejo, a atração momentânea, e só. No dia seguinte talvez nem lembre o nome.
A descoberta, o mistério, a conquista... sim, caros leitores, o romantismo parece estar em extinção.
Seguimos nossa análise passando para namoros e casamentos. Juras de amor eterno, planos mil, sonhos compartilhados, intimidade, amigos e famílias unificadas. No caso dos casados, muitos sonhos e planos já concretizados, filhos, casas e contas em comum. De repente tudo pode acabar. Ok, acontece. A convivência revela quem é quem, qualidades e defeitos, falhas e acertos. Nem sempre é o que se esperava. Mas com o rompimento ficam as magoas, e não adianta, um lado sempre acaba mais machucado. Toda aquela vida planejada de forma em comum com o outro deve ser novamente traçada. O outro? O outro vira inimigo, e o que era amor vira ódio. O que era eterno vira divisões exaustivas de bens. Tudo de bom se perde na amargura da decepção, o sentimento ruim toma conta. Então, te apresento dois estranhos, que ao se encontrarem se ignoram. 
Ignoram toda a parte boa dessa convivência, os bons momentos, as conquistas, a amizade, o companheirismo, o aprendizado mutuo, os frutos dessa relação (e eles sempre existem, por mais difícil que seja percebê-los quando tudo acaba). Como ignorar alguém que conhecemos tão bem? Conhecemos toda a história daquela criatura, gostos, manias, inquietações, pai, mãe, primo, cachorro, toda sua intimidade. Mesmo assim, hoje, evitam o mesmo lado da calçada e acreditam que aquele amor foram anos de tempo perdido. 

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