sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Eleições


Em período eleitoral a lembrança de um texto publicado em Outubro de 2008, na Revista Trilhas.

            Aproveitando o momento atual em que vivemos puxo o gancho também para este espaço. Mas não se engane, não pretendo analisar a política nem o que o sistema implica. Contigo quero refletir sobre nossas escolhas e influências, essas sim, unidas, nos fazem quem somos hoje e ditarão nosso futuro.
            Passamos a vida inteira em processo eleitoral, a todo instante somos submetidos a escolhas, opções, caminhos diferentes, cada qual com seus atrativos. Desde a roupa que vamos vestir, passando pela aceitação, ou não, de uma proposta de emprego, até a decisão de estabelecer ou romper um relacionamento.
            Notaste que acabas de eleger este tempo para destinar atenção às minhas palavras, enquanto poderias estar lendo a página seguinte ou nem mesmo ter aberto a revista?! E nessa hora, confesso me questionar por quê? O que te atrai? O que te trouxe até aqui?
            Somos movidos por um conjunto de influências, como a forma que fomos criados no ambiente familiar, o meio em que vivemos ontem, o meio de hoje, pela mídia, pelas amizades que estabelecemos, as pessoas que permitimos se tornarem próximas. A partir daí, aliado a personalidade de cada um, acabamos elegendo valores e conceitos que nos fazem bem e que julgamos certo ou necessário, mesmo que isso ocorra de forma inconsciente. E assim, como virtualmente bombardeados por mensagens, cabe a cada um julgar o que imprimir ou deletar. Somos moldados por diferentes fatores que nos cercam, por caminhos menos claros, por escolhas nem sempre certas, pela malícia que só a vivência traz.
Mas não possuímos uma fórmula certa, é impossível conhecer uma pessoa por completo. Porque todos os dias mudamos um pouco, geralmente em busca do aperfeiçoamento, da evolução. Nesse processo, agregamos alegrias, tristezas, conquistas e decepções. Frutos de nossas próprias eleições, o amigo que é de fé, a confiança depositada em alguém que não merecia, a escolha de estar na festa, não ir na viagem, agir de tal forma, falar o que se pensa, não falar, assim por diante. Escolhas manifestadas em pequenos gestos e atitudes que nos conduzem por diferentes estradas, as quais provavelmente irão nos causar dúvidas, inquietações e até mesmo arrependimento em alguns momentos.
Com certeza eu já não sou mais quem era há alguns anos atrás e tu também não és mais o(a) mesmo(a), carregamos apenas a essência, as lembranças, marcas e experiências. Por esse mesmo motivo, nossos sonhos mudam, nos afastamos de pessoas que já não nos fazem tão bem e nos aproximamos de outras que antes nem nos chamavam atenção. Se mudamos para melhor eu não sei, só aqueles que nos cercam podem avaliar.
Seguindo essa idéia, da mesma forma que elegemos somos eleitos. Porém, como os políticos por carreira fazem, somos muitas vezes colocados em disputa para a conquista de um objetivo. E sabes como somos selecionados? Geralmente pela empatia de idéias, por nossa conduta, por nossas próprias eleições ao longo da vida.
Elegemos e somos eleitos diariamente! E viva a democracia!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um dia viramos gente grande

Texto publicado em Agosto de 2008 na Revista Trilhas. Propício para a data de hoje, Dia das Crianças.

Se isso acontecer de um dia para o outro não se espante. É assim mesmo. Geralmente o passo é imenso e exige responsabilidades de acordo com o título, o de adulto. E a tão sonhada liberdade e independência econômica chega sem aviso prévio, pode ocorrer as 10h 37min de uma manhã nublada de quinta-feira e causar certo choque. Apesar de passarmos uma vida inteira nos preparando para isso.
        Tudo começa na idealização de papai, mamãe e agregados, enquanto planejam a vida dos futuros pimpolhos, ainda nem fabricados. Quando feto, os planos começam a ser mais concretos. E quando nascem então, as crianças já vem com planejamento completo de vida. Pobres coitados de todos nós. Haja personalidade para seguir nossos próprios passos, mesmo que esses sejam totalmente diferentes do que essa gente toda esperava.
            Ta, vamos brincar?! De quê? Professora, médica, bombeiro, policia? Lá vem as profissões.
        Já nos primeiros anos do colégio, quando possuímos certo discernimento entre uma coisa e outra, a tia pergunta: “e tu, o que vai ser quando crescer?!” Oras, grande, mulher maluca! E tu, sabes o que esperar da vida? Convenhamos, não seria nada gentil, mas uma boa resposta.
       No segundo grau (ensino médio), ainda no colégio, a pressão se volta para o vestibular, com 16-17 anos temos que escolher a profissão que vai agregar satisfação pessoal e sustento para o resto da vida, a princípio.
          Ok, conquistamos uma vaga na universidade, no momentâneo curso de nossos sonhos. Sonhos que podem mudar, com todo o direito, no penúltimo ano da faculdade.
            Com o diploma na mão, o futuro da nação vira o mais novo problema social, fazendo parte dos índices negativos do país.
            Depois de algum tempo agüentando palpites vindos de todos os lados, as orações, preces e promessas acabam sendo atendidas. Geralmente tudo começa com um telefonema sem maiores informações. Do outro lado da linha uma voz que diz que seu currículo foi selecionado, te chamando assim para mais uma entrevista. A promessa para o retorno da resposta definitiva fica para uns dias depois. Quando na madrugada das 10h da manhã de quem não tem nada pra fazer o celular toca, e com voz de sono a gente diz estar acordado, então ouvimos: “Parabéns, a vaga é sua!” Essa é a independência econômica ligando.
Satisfeitos, levantamos da cama, deixando para trás aquele ser desmotivado, que teimava em carregar nosso nome e sobrenome. E agora?! Agora a gente é grande! Com emprego, salário e muitas tarefas!
O problema é que quando a gente se acha grande, tem tendência a desejar independência total, e lá vem as mudanças e com elas as situações inusitadas.
O lar exclusivo reflete um dos primeiros passos, a liberdade. Não dar satisfações, chegar a hora que quiser, não limpar, não arrumar e não ter ninguém para reclamar disso. Então, depois de um dia cansativo de trabalho chegamos na privacidade da tão sonhada casa. Perfeito! Se não fosse a roupa por lavar, a janta por fazer e a solidão teimando fazer companhia.  Porque se a gente não lava roupa, não tem o que vestir, se a gente não passa continuam amarrotadas e se a gente não cozinha não come, assim por diante.  Não fazer implica em deixar por fazer, então a gente acaba fazendo e nos tornando iguais ao nossos pais, avós, ou seja lá quem for que nos impunha tais condições. Com a diferença que nós mesmos estabelecemos nossas próprias regras e obrigações.
Rotina estabelecida, tudo em ordem! Que nada! O foco das pressões mudam, mas essas continuam. Quando será o casamento? Se casar, e o primeiro filho? Nasce a criança... e o segundo? Daí reinicia todo o ciclo e quem vai planejar o futuro desses dessa vez somos nós.                                       Sim, crescemos mesmo, porém não é necessário perder a alegria da essência de uma criança ou a motivação rebelde de um adolescente. Estes devem permanecer vivos em nós. Com direito a volta para o colo daqueles que nos transmitem segurança e aconchego eterno, muitas risadas fáceis, festas, reunião com os amigos... sempre que possível.
                                                                                                                                    










                                                                                           

sábado, 9 de outubro de 2010

O pé torto do chinelo velho

Publicado em Junho de 2008 na Revista Trilhas.



          E viva as diferenças, diversidades e coincidências da vida! Na hora que o “tum tum” bate mais forte vale qualquer justificativa para tal sentimento. Os opostos que se atraem, as coincidências que surgiram, o sorriso maroto, o olhar misterioso, o jeito que ela mexe no cabelo quando perde o próprio jeito, a forma que ele mexe as sobrancelhas enquanto conta as histórias mais fascinantes (sim, porque tudo que ele faz e fala é perfeito), assim por diante.
Detalhes que passariam batido, e que para os demais não fazem a menor diferença (as vezes nem sentido), mas que para os “flechados” torna a vida ainda mais colorida. Justificativas as quais se tornam desnecessárias, a paixão existe e pronto. Nãooo! Não é bem assim, ele é o homem da minha vida e ela a mulher perfeita, e como não passar horas e horas divagando sobre esses seres quase sobre naturais. Que mesmo para os defeitos existe as mais elaboradas teses de compensação.
A idade para tal sensação não importa, claro, cada um reage de uma maneira, mas a euforia desmascara qualquer cidadão mais recatado.
O ser humano é incrível, muda de opinião e veste personalidades quantas vezes for necessário, para que suas ações e reações mantenham uma certa lógica. Como se precisássemos justificar nossos sentimentos para o mundo, a todo instante, e a contradição não pudesse existir de maneira alguma. Ai, que sem graça seríamos, pessoas totalmente previsíveis, sem expectativas ou surpresas. E daí surgem as comunidades no orkut, com milhares de adeptos: “Cadê seu manual de instruções?”; “O que as mulheres querem?”; “Homens: quem os entende?”.  Todos tentando se compreender um pouco mais e adivinhar onde fica o tal ponto G ... da questão!
A realidade é que os tempos evoluiram e com ele as relações mudaram, e mesmo sem ter vivido aqueles anos, como acho falta do velho romantismo.
Com o passar dos tempos veio a então igualdade sexual, onde tudo pode. Sim, elas botaram as manguinhas de fora e foram a luta por seus objetivos sentimentais e/ou carnais. Lindo! Se a forma não fosse tão agressiva e até meio competitiva as atitudes masculinas. O que de certa forma vem se tornando bastante confortável para eles. Claro que não podemos generalizar, apenas chamo atenção de forma reflexiva para uma geração ainda em formação.
         Passada a fase da paixonite aguda, e do mutuo conhecimento, onde os laços são estreitados, a intimidade se cria e a afetividade amadurece, compartilhando dos mesmos princípios para uma relação estável, evoluímos para o namoro. Isso quando existe reciprocidade das duas partes, é bom deixar claro. Esse caminho pode ser longo. Possivelmente surgirão os carinhosos apelidos, palavras em dialeto infantil e no diminutivo, cuja criatividade a gente deixa para a privacidade mais íntima dos casais.
 Uma etapa mais tranqüila, quando o outro(a) já foi conquistado(a) e então o casal começa a se relacionar com os amigos e a família do(a) parceiro(a). Compartilhar planos, sonhos, alegrias e também tristezas, alguém com quem contar de forma mais especial, um(a) parceiro(a) de vida (eterno, enquanto dure!). Não esquecendo da necessária reconquista diária, regada a pequenos agrados. Haverão divergências, normais em qualquer relacionamento humano, porém a forma e a importância a essas questões é que irão ditar o rumo dessa relação.
As diferenças foram superadas, ou melhor, aprenderam a lidar com estas e o amor prevaleceu, relacionamento ainda mais maduro e então novos planos, morar juntos, casar?! Se o mundo conspira a favor, por que não?! Casar no civil, no religioso, sim, festejar tal ápice de felicidade por ter encontrado uma pessoa especial, a quem já se pode intitular como a outra metade da laranja, alma gêmea ou cara-metade, disposta a dar e receber amor sincero. Celebre! Celebre a felicidade do presente, sem que seja preciso planeja-la para futuros incertos e tão distantes.
Felizmente o amor não vem com manual de instruções. Não é razão, é emoção, feita para sentir, não para pensar. Surge, acontece e toma conta. Mas não é pra qualquer um dispertar tal sentimento com intensidade. Não adianta procurar o amor na então dita perfeição, se na realidade são as pequenas imperfeições que acabam nos atraindo, é o diferencial. Aquilo que distingue uma pessoa da outra, sejam essas características físicas e/ou de personalidade, alimentada por uma química. E aí eu volto para a idéia do título, sempre existe um “chinelo velho para um pé torto!” O que seriam das loiras se todos gostassem das morenas? O que seria dos baixinhos, se todas preferissem os altos? Ainda bem que existe os altos, os baixos, os gordinhos, os magrinhos, os CDF, os malucos, os marrentos, os palhaços, e aqueles que também adoram bife de fígado, manga e dobradinha (argh!).
Encontros e desencontros. Chegadas e partidas. Casos e acasos. Destinos e escolhas. As coisas acabam acontecendo ao seu tempo, no tempo certo.
                                                          
                                                                       
























quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Eu vivo, tu vives, eles vivem, nós vivemos...

Texto publicado em Abril de 2008, o primeiro da série que passou a ser veiculada na Revista Trilhas.


Não sabia que se tornaria tão difícil começar a escrever sobre assuntos comuns ao cotidiano de todo mundo, portanto comuns a mim também, e é aí que o negócio pega. Complica a partir do momento que exponho minhas opiniões analisando, tão informalmente, “os outros”. Fácil seria falar a dois, três amigos.
Quando pesquisava um tema para este espaço, me deparei com nada mais comum a todos nós, porém tão rico assunto como a vida, conduzida de tão diferentes maneiras... existiria então a forma mais certa?!
Eu vivo, tu vives, eles vivem, nós vivemos. Porém cada um o faz de forma diferente. Uns mais intensamente, outros com mais cautela, alguns simplesmente existem, sobrevivem, outros são regidos pela energia positiva, existe os que vivem apaixonadamente, porém também têm aqueles de mal com vida, os que optam por seguir crenças, os que preferem fugir do convencional, e tem ainda aqueles que escolhem expôr suas vidas em reality shows, entre tantos outros.
Cá entre nós, em alguma forma citada acabaste remetido a alguém, seja esse conhecido, familiar ou amigo, não?! E mais, encaixarias outros tipos? Fique à vontade!
Mas existem aqueles que “parecem” se destacar, batem recordes, ganham prêmios, superam expectativas, são reconhecidos, viram notícia. Há aqueles que têm o dom da ciência e da pesquisa, tem os que dançam, os que cantam, os que sapateiam e outros que até cantam, dançam e sapateiam ao mesmo tempo!
 As pessoas acabam mesmo que em diferentes formas e áreas buscando um objetivo cujo ápice prega o total êxito, o sucesso, a fama, e então o destaque perante uma sociedade cada vez mais competitiva e individualista, onde só quem é o “mais mais” pode ser considerado “bom”. É quase uma necessidade de auto-afirmação. Não, não sejamos hipócritas, somos todos assim mesmo, uns mais outros menos, mas o ser humano precisa desse objetivo para então encontrar o seu real sentido perante a própria vida.
Se essa é uma condição inafastável à nossa espécie, o que fazer então? Conformarmo-nos com isso e simplesmente entrar no jogo cujas cartas já estão na mesa? Ouso crer que não. Acredito que são nossos princípios e valores os reais fatores que nos diferenciam em meio à multidão. De nada adianta ser o melhor se para isso foi necessário injustiçar um inocente. De nada adianta o sucesso, a fama, o reconhecimento, se para isso precisou-se prejudicar amigos, afastar-se da família, abrir mão de entes queridos. De nada adianta a vida se nela não cultivarmos bons sentimentos, aqueles que estão tão esquecidos, mas sempre são tão bem aceitos.
Viver é uma arte diária, requer desenvoltura e certa habilidade. Devemos reconhecer doses de riqueza nesse processo, a cada instante, a cada novo pequeno desafio, a cada superação mais secreta, sem que seja necessário esperar por aplausos no final.
O certo e o errado existem, mas são suficientemente flexíveis, siga seus instintos e sentimentos, sem deixar de celebrar o dom de viver buscando todos os dias ser ainda mais feliz, do seu jeito.


                                   

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Palavras Guardadas

A seguir um texto que escrevi para o jornal de entretenimento Noite & Cia, em julho de 2004. O primeiro nesse estilo publicado. Esse texto inspirou o nome do blog, pois na época recebeu esse mesmo título e retrata bem o que vem pela frente. Reler ele hoje em dia é estranho, termos, formas de escrita que já não utilizo mais, mas mantive como foi publicado para que a essência não se perdesse.



Palavras Guardadas
Quem nunca, nem ao menos uma vez, escreveu algo a alguém?! Nem um cartãozinho rimado para um namorado(a), amigo(a), parente ou paquera?! Agora me responda outra pergunta: quantas vezes você teve vontade de dizer e não disse, teve vontade de ligar e não ligou, teve vontade de escrever e não escreveu? Milhões de vezes, né?! Por quê? Porque não sabe... não sabe como se expressar, ficou com medo de se expor? Ok! Aceito como sugestões de resposta, apesar de não estar convencida. (Quantas oportunidades perdidas, hein?!) Mas garanto que algumas palavrinhas guardadas na gaveta ao lado da cama existem, ou já existiram. Se a resposta for não, tudo bem, você continua sendo uma pessoa normal.
Em torno deste tema encontramos os poetas anônimos, pessoas como eu e você, que encontram na rima das palavras uma forma de desabafar sentimentos, analisar fatos do cotidiano e da história, falar de coisas e pessoas. Não pense que estou falando de grandes talentos com aspirações a literatura. Não, são pessoas comuns, que geralmente nos momentos de solidão, no fim de noite, quando tudo se aquieta e é possível respirar mais fundo, passam para o papel momentos, acontecimentos e sensações, que fazem bem serem registrados, mesmo quando em forma de crítica, nem que seja para ser rasgado no instante seguinte. É uma forma de terapia. O terapeuta? Isso fica por conta das releituras depois de um tempo, algumas já não fazem mais o menor sentido, enquanto outras ainda são muito presentes.
Não é necessário rimar para que uma poesia tome forma, apenas deixar fluir as palavras que em seguida vão tomando sentido. Se você ainda não é um poeta anônimo experimente em um dia de bobeira juntar umas idéias, escreva pra você mesmo, sem regras gramaticais, sem medo de errar, quem sabe você não tem talento pra coisa, ou se identifica e acaba adquirindo como um hobby? Afinal, sempre é válido tentar algo novo!