terça-feira, 12 de outubro de 2010

Um dia viramos gente grande

Texto publicado em Agosto de 2008 na Revista Trilhas. Propício para a data de hoje, Dia das Crianças.

Se isso acontecer de um dia para o outro não se espante. É assim mesmo. Geralmente o passo é imenso e exige responsabilidades de acordo com o título, o de adulto. E a tão sonhada liberdade e independência econômica chega sem aviso prévio, pode ocorrer as 10h 37min de uma manhã nublada de quinta-feira e causar certo choque. Apesar de passarmos uma vida inteira nos preparando para isso.
        Tudo começa na idealização de papai, mamãe e agregados, enquanto planejam a vida dos futuros pimpolhos, ainda nem fabricados. Quando feto, os planos começam a ser mais concretos. E quando nascem então, as crianças já vem com planejamento completo de vida. Pobres coitados de todos nós. Haja personalidade para seguir nossos próprios passos, mesmo que esses sejam totalmente diferentes do que essa gente toda esperava.
            Ta, vamos brincar?! De quê? Professora, médica, bombeiro, policia? Lá vem as profissões.
        Já nos primeiros anos do colégio, quando possuímos certo discernimento entre uma coisa e outra, a tia pergunta: “e tu, o que vai ser quando crescer?!” Oras, grande, mulher maluca! E tu, sabes o que esperar da vida? Convenhamos, não seria nada gentil, mas uma boa resposta.
       No segundo grau (ensino médio), ainda no colégio, a pressão se volta para o vestibular, com 16-17 anos temos que escolher a profissão que vai agregar satisfação pessoal e sustento para o resto da vida, a princípio.
          Ok, conquistamos uma vaga na universidade, no momentâneo curso de nossos sonhos. Sonhos que podem mudar, com todo o direito, no penúltimo ano da faculdade.
            Com o diploma na mão, o futuro da nação vira o mais novo problema social, fazendo parte dos índices negativos do país.
            Depois de algum tempo agüentando palpites vindos de todos os lados, as orações, preces e promessas acabam sendo atendidas. Geralmente tudo começa com um telefonema sem maiores informações. Do outro lado da linha uma voz que diz que seu currículo foi selecionado, te chamando assim para mais uma entrevista. A promessa para o retorno da resposta definitiva fica para uns dias depois. Quando na madrugada das 10h da manhã de quem não tem nada pra fazer o celular toca, e com voz de sono a gente diz estar acordado, então ouvimos: “Parabéns, a vaga é sua!” Essa é a independência econômica ligando.
Satisfeitos, levantamos da cama, deixando para trás aquele ser desmotivado, que teimava em carregar nosso nome e sobrenome. E agora?! Agora a gente é grande! Com emprego, salário e muitas tarefas!
O problema é que quando a gente se acha grande, tem tendência a desejar independência total, e lá vem as mudanças e com elas as situações inusitadas.
O lar exclusivo reflete um dos primeiros passos, a liberdade. Não dar satisfações, chegar a hora que quiser, não limpar, não arrumar e não ter ninguém para reclamar disso. Então, depois de um dia cansativo de trabalho chegamos na privacidade da tão sonhada casa. Perfeito! Se não fosse a roupa por lavar, a janta por fazer e a solidão teimando fazer companhia.  Porque se a gente não lava roupa, não tem o que vestir, se a gente não passa continuam amarrotadas e se a gente não cozinha não come, assim por diante.  Não fazer implica em deixar por fazer, então a gente acaba fazendo e nos tornando iguais ao nossos pais, avós, ou seja lá quem for que nos impunha tais condições. Com a diferença que nós mesmos estabelecemos nossas próprias regras e obrigações.
Rotina estabelecida, tudo em ordem! Que nada! O foco das pressões mudam, mas essas continuam. Quando será o casamento? Se casar, e o primeiro filho? Nasce a criança... e o segundo? Daí reinicia todo o ciclo e quem vai planejar o futuro desses dessa vez somos nós.                                       Sim, crescemos mesmo, porém não é necessário perder a alegria da essência de uma criança ou a motivação rebelde de um adolescente. Estes devem permanecer vivos em nós. Com direito a volta para o colo daqueles que nos transmitem segurança e aconchego eterno, muitas risadas fáceis, festas, reunião com os amigos... sempre que possível.
                                                                                                                                    










                                                                                           

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